UFSC na mídia: Mais de 200 pesquisas estão sendo realizadas em Joinville pelas universidades públicas

17/06/2019 14:55

Somente neste ano, 247 pesquisas estão sendo realizadas em Joinville pelas duas universidades públicas locais – a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) – e pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

De todas, 86 estão sendo feitas pela UFSC, 150 pela Udesc e 11 pelo IFSC. Em Joinville, as duas universidades concentram em seus campi cursos da área de exatas, vários de diferentes segmentos da engenharia, alinhados à atividade industrial da cidade. Já o IFSC oferece cursos de engenharias, alguns nas áreas da saúde e da educação.

Das mais de 80 pesquisas que a UFSC de Joinville vem desenvolvendo, está a produção de cimentos mais sustentáveis, feitos a partir de materiais que possam gerar energia. Segundo Wagner Maurício Pachekoski, coordenador de pesquisa da UFSC Joinville, esse tipo de material pode ser usado, por exemplo, na iluminação de estradas, a partir da geração de energia do próprio asfalto.

A instituição ainda faz pesquisas com motores elétricos menos poluentes, plásticos biodegradáveis, impressões em 3D, materiais de pavimentação com melhor absorção de água, estudos em plataformas de petróleo e carros elétricos.

O Departamento de Engenharia da Mobilidade do campus Joinville da UFSC também desenvolve uma pesquisa sobre o envelhecimento na cidade, com coordenação da professora Andrea Holz Pfutzenreuter.

O trabalho busca entender se a estrutura da cidade está preparada para o envelhecimento da população, considerando aspectos de mobilidade, como calçadas, escadas, instrumentos de lazer, parques, entre outros. O levantamento iniciou em 2016 e tem previsão de término em 2020. Esta é uma das pesquisas realizadas pela instituição sem financiamento.

Pesquisadora no Laboratório de Química da Udesc Joinville (Foto: Patricia Gaglioti)

Pesquisas na Udesc podem auxiliar produção de novos medicamentos

Outra característica das pesquisas é sua aplicação em áreas diferentes da qual ela foi produzida. Um exemplo é a que vem sendo desenvolvida na Udesc Joinville por um grupo que une pesquisadores de materiais e químicos. Eles trabalham com a síntese de polímeros (plásticos) a partir de fontes renováveis.

O professor Sérgio Henrique Pezzin, diretor de pesquisa e pós-graduação da Udesc, explica que o grupo tem produzido capsulas a partir do resveratrol (substância que se encontra na casca da uva). A substância traz benefícios para o coração, mas quando tomada em comprimido, tem uma absorção muito baixa pelo organismo.

“A gente quer fazer um mecanismo de liberação controlada dele (resveratrol) no organismo. A gente tem feito a produção de polímeros a partir dele, que se hidrolisam (se decompõem através da água) no estômago e eles vão sendo liberados aos poucos no organismo”, explica Sérgio.

Dentre as 150 pesquisas que estão em andamento na Udesc, está outro estudo de química que começou em 2018 e vem desenvolvendo novos fármacos em tratamentos tumorais, através de um equipamento de ressonância magnética nuclear.

A universidade também tem parceria com a Universidade de Lund, na Suécia, e a UFSC para aprimorar catalisadores de reações orgânicas que são aplicados na indústria petroquímica, farmacêutica e de alimentos.

“Você não faz pesquisa isolado. Você precisa estar vinculado a outras instituições também. Você faz o crivo da pesquisa, para saber se ela é válida, com outros grupos, outros pesquisadores, inclusive de instituições internacionais para ver se aquilo realmente faz sentido”, afirma Sérgio.

IFSC realiza pesquisas variadas

Onze pesquisas estão em andamento no campus de Joinville do Instituto Federal de Santa Catarina, com temas bastante variados, já que o campus oferece cursos técnicos, de graduação e pós-graduação em áreas distintas, como engenharias, saúde e educação.

Há pesquisas que analisam parâmetros de qualidade da água de efluente doméstico; sobre os desafios e necessidade para implantação de uma educação 4.0 (que leve em consideração as novas tecnologias e os novos saberes para atender à chamada quarta revolução industrial); e o resgate do patrimônio lúdico de idosos no Meio-Oeste e Norte de Santa Catarina.

Das 11 pesquisas em andamento, seis têm financiamento da reitoria do IFSC e do campus de Joinville para serem realizadas, num total de R$ 19.855,00 de recursos.

Por quanto tempo se pesquisa?

O tempo que se leva para concluir uma pesquisa varia de acordo com sua complexidade. Algumas levam 5, 10, 15 ou mais anos. Isso porque elas seguem determinados processos.

“Primeiro você descobre que pode fazer algo, promover uma alteração, uma melhoria. Depois é necessário levar essa descoberta para grande escala e torná-la viável financeiramente. Uma coisa é produzir algo dentro do laboratório, trabalhando com pequenas quantidades. Há materiais, por exemplo, que quando aplicados em grandes quantidades apresentam resultados indesejáveis ou se tornam muito caros”, explica Wagner Maurício Pachekoski, coordenador de pesquisa da UFSC Joinville, . A última etapa de tudo isso é a chegada do resultado da pesquisa para a população.

Por isso, nem sempre o que a universidade está pesquisando neste momento será percebido pela sociedade ao mesmo tempo. “A sociedade recebe esses conhecimentos de forma direta, indireta, imediata e a longo prazo”, comenta o pró-reitor de pesquisa da UFSC, Sebastião Roberto Soares.

O preço e as fontes de investimento em pesquisas científicas

O preço para a realização de uma pesquisa varia muito. Das 86 pesquisas em andamento no campus da UFSC de Joinville, apenas 19 delas têm financiamento, ou seja, receberam recurso para que fossem realizadas. O total financiado é de R$ 6,3 milhões.

Das 19 pesquisas financiadas, três o foram com recursos da própria universidade. As outras 16 receberam verbas de diferentes órgãos e instituições, entre eles, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, entre outros.

Infograma 01.

No Centro de Ciências Tecnológicas (CCT), como é chamado o campus de Joinville da Udesc, das 150 pesquisas em desenvolvimento, entre 80 e 90% têm algum tipo de financiamento, seja recurso próprio da universidade, de fontes como CNPQ, Capes, Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep), ou parceria com empresas.

O diretor de pesquisa e pós-graduação da Udesc, Sérgio Pezzin, estima que haja cerca de R$ 1,5 milhão vindos de órgãos de fomentos para as pesquisas realizadas no CCT.

A verba própria da universidade para pesquisas é R$ 1,8 milhões para os 12 campus em 2019, o que daria uma média de R$ 150 mil para cada campus.

Outra parte das pesquisas, entre 10 e 20% delas, não possuem financiamento. Segundo Pezzin, a maior parte é de linhas de pesquisas teóricas. Além disso, há vários projetos que contam com estudantes voluntários em suas equipes de trabalho.

Os recursos que as instituições destinam à pesquisa estão previstas na verba de custeio das universidades, fatia que está sob ameaça, caso continue o bloqueio de 30% nas instituições federais, e no caso da Udesc seja aprovado o corte de 10% do repasse de verbas do governo estadual para a universidade.

Mesmo as pesquisas que não recebem financiamento específico para serem realizadas, usam os laboratórios e equipamentos que a universidade dispõe. E os recursos para manutenção deles também saem da verba de custeio das instituições.

“Você cortando verba, você inviabiliza investimentos feitos ao decorrer dos anos. Um exemplo é o nosso equipamento de ressonância magnética nuclear (usado para a pesquisa de novos fármacos) que custou R$ 2 milhões e a UDESC conseguiu através de um edital. A manutenção deste equipamento custa em torno de R$ 100 mil por ano”, explica Pezzin.

Investimentos privados

É também possível realizar pesquisas dentro das universidades utilizando recursos privados e em parceria com empresas. Segundo Wagner Maurício Pachekoski, coordenador de pesquisa da UFSC Joinville, duas grandes parceiras da UFSC são a Petrobrás e a Vale, que disponibilizam editais com recursos para realização de pesquisas.

O campus de Joinville também se aproxima de empresas locais para mostrar a universidade e o trabalho realizado por ela. “É mais comum que a empresa procure a universidade em busca de uma solução que ela precisa do que a universidade buscar a empresa”, afirma Pachekoski. “Nós buscamos empresas quando a pesquisa já está mais adiantada, com algum resultado conquistado que possa interessar a ela”, completa.

O mesmo acontece com a Udesc, inclusive com o poder público. “A via era sempre a universidade produzindo coisas e o poder público vindo atrás quando sabia da produção. Isso está mudando. O poder público está mais ativo e tem procurado mais a universidade para produzir coisas em parceria. Isso mudou muito há uns três anos”, afirma Pezzin.

Norberto Peporine Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Química, explica que quando as empresas participam do financiamento de alguma pesquisa é em sua fase final, quando seus resultados podem se transformar em algum produto ou benefício efetivo. Norberto esteve em Joinville no final de maio para a 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, que ocorreu na Expoville.

Pesquisas científicas e desenvolvimento nacional

Para Alexandre Marino Costa, pró-reitor de Graduação da UFSC, a exemplo de outros países, o desenvolvimento social e econômico de um país passa pela educação. Na sua visão, a universidade pública conquistou um movimento de vanguarda no desenvolvimento científico do Brasil.

“Se a gente quer um país forte e soberano temos que gerar conhecimento, cujo modelo brasileiro está sustentado nas universidades públicas”, afirma.

Wagner Maurício Pachekoski, coordenador de pesquisa da UFSC Joinville, dá o exemplo da Coreia do Sul, que há 30 anos tinha um desenvolvimento econômico parecido com o do Brasil. Segundo o professor, o que fez o país se desenvolver economicamente foi o investimento em educação e pesquisa, capaz de gerar novas tecnologias.

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Já o diretor de pesquisa e pós-graduação da Udesc, Sérgio Henrique Pezzin, faz um comparativo com o MIT (Massachusetts Institute of Technology, Estados Unidos), que é um instituto privado, conhecido por suas pesquisas e ensino em ciências físicas e engenharia e considerado como um dos melhores do mundo. O investimento em pesquisas no MIT em 2018 foi de cerca de 1,5 bilhão de dólares. “Mas o retorno é grande, não só para o MIT, mas para todo o país”, destaca.

Sérgio Henrique Pezzin no Laboratório de Química da Udesc Joinville. Foto: Patricia Gaglioti

Segundo Pazzin, mesmo sendo um instituto privado, boa parte dos recursos para pesquisa vem do poder público. “O que acontece em muitos países como nos Estados Unidos e na Alemanha é que há muita pesquisa sendo feita dentro das próprias indústrias – cerca de 70% do total. No Brasil, quem mais realiza pesquisa são as universidades, em torno de 90% do total”, afirma.

“Pesquisa em nível de excelência na área de exatas e engenharias (caso do CCT-UDESC) é um investimento caro, mas que tem que ser feito se o país não quiser ser eternamente dependente de tecnologia dos outros países”, diz Pezzin.

Em Santa Catarina, por exemplo, a UFSC participou ativamente da transformação do estado em um grande produtor de ostras. “Hoje se Santa Catarina é o estado que mais produz ostras, toda a base desta cadeia produtiva nasceu dentro da universidade”, afirma Sebastião Roberto Soares, pró-reitor de pesquisa da UFSC.

A UFSC participou ativamente dos estudos para o cultivo de ostra-do-mangue e ostra-japonesa em Florianópolis, desde a década de 1980. A universidade junto com outras instituições, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Epagri); a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (Cidasc); a Prefeitura de Florianópolis; e o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) foram responsáveis pela implementação de políticas de apoio e fomento à maricultura.

Na visão do pró-reitor de extensão da UFSC, Rogério Cid Bastos, a diminuição ou a falta de investimentos nas universidades públicas compromete diretamente o desenvolvimento de novas pesquisas e pode comprometer, a longo prazo, a criação de novas tecnologias e novos empregos.

“Se você para de investir na universidade pública, o primeiro efeito é que ela vai se voltar apenas para o ensino, sem desenvolver novas fórmulas de cimento, de compressor, de entender a economia, a própria vida, os relacionamentos. Ela não vai mais conseguir criar tecnologias como um whatsapp, um waze. Isso significa que estaremos comprometendo toda uma geração, porque os empregos que vão ser ‘top’ daqui a dez anos ainda não foram criados”, afirma.

“Se você deixa de investir no ensino superior e tem essa visão distorcida que o ensino superior é só sala de aula, você condena o país a um atraso tecnológico e científico. Ainda mais num país em que 90% das pesquisas são feitas pelas universidades”, complementa Rogério.

Por jornalista Patricia Gaglioti
Da equipe Fazer Aqui
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