Suicídio: algumas informações

13/09/2018 14:09

Prof.ª Vanessa Lima

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), 800 mil pessoas tiram a vida todos os anos, sendo a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos (WENTZEL, 2017), a primeira é a violência, que ceifa 1,2 milhão de jovens por ano (GIANNINI; LISBÔA, 2018). O país com mais mortes por suicídio é a Índia (258 mil óbitos), seguido de China (120,7 mil), Estados Unidos (43 mil), Rússia (31 mil), Japão (29 mil), Coreia do Sul (17 mil) e Paquistão (13 mil). O Brasil é o oitavo país em número de suicídios (MAGALHÃES, 2018).

Em 2012, no Brasil, foram registradas 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres, os meios mais utilizados são intoxicação (pesticidas) e envenenamento. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes, e entre 2011 e 2015 os óbitos aumentaram 12%. São 32 por dia. Os índices, no Brasil tem aumentado mais nas faixas mais jovens, no mesmo período cresceram 65% na faixa de 10 a 14 anos e 45% na de 15 a 19 (SILVEIRA, 2010). Entre a comunidade indígena o índice é o triplo da média nacional (MAGALHÃES, 2018).

Segundo o sociólogo Julio Jacobo Waisenfisz, um dos fatores ligados às mortes juvenis é o bullying escolar, e o mesmo informa que a taxa entre adultos também tem crescido – 60% desde 1980 (ESCÓSSIA, 2017).

Os fatores do suicídio entre jovens têm sido discutidos, e o fato do desenvolvimento cerebral não estar completo é significativo. Segundo o psiquiatra Elton Kanomata, em muitos adolescentes, as áreas responsáveis pela resiliência e a capacidade de lidar com frustrações não está completamente desenvolvida (MORENO; DANTAS; OLIVEIRA, 2018). O também psiquiatra Antônio Geraldo da Silva lembra que tal desenvolvimento pode ir até os 22, 23 anos de idade, enquanto isso, os jovens na sociedade contemporânea estão sendo expostos a vários estressores, como a pressão por rendimento, a multitarefa, os modelos midiáticos (MORENO; DANTAS; OLIVEIRA, 2018).

O suicídio é estigma e tabu sociais. O silêncio ou discrição sobre decorre também do chamado Efeito Werther. A origem do nome é um romance do século XVIII, Os sofrimentos do jovem Werther. O protagonista, criação da pena de Goethe, mata-se em virtude de um infortúnio no amor. A ficção teria impulsionado uma onda de suicídios reais (MAGALHÃES, 2018).

Em 2017, a série televisiva 13 Reasons Why narrou a história de uma estudante de ensino médio que se mata. Nos 18 dias seguintes ao lançamento, a procura na internet por palavras conectadas a suicídio se expandiu 19% nos Estados Unidos. Entre os temas consultados estavam métodos para se matar. Há, contudo, quem interprete a série como um alerta (MAGALHÃES, 2018).

Ocultar um problema de saúde pública seria um desserviço jornalístico. Sem conhecê-lo, como combatê-lo? “Se noticiamos tantos homicídios sem medo de eles estimularem alguém a matar, por que tememos que, ao noticiar suicídios, estaremos estimulando alguém a matar a si próprio?” (DAPIEVE, 2017).

A prevenção pode evitar muitos suicídios. Ela existe, tocada por gente qualificada e generosa, mas precisa se ampliar. O telefone do Centro de Valorização da Vida, serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio, é 188. Uma das muitas cartilhas úteis se intitula Suicídio: informando para prevenir (CFM, 2014).

Sinais dados por potenciais suicidas (Psicóloga Karen Scavacini, cofundadora do Instituto Vita Alere¹ de Prevenção e Pósvenção do Suicídio):

  • Fala explicitamente que quer se matar;
  • Mostra desesperança dizendo a várias pessoas que a vida não tem mais sentido;
  • Se despede de parentes e amigos;
  • Apresenta irritabilidade e choros frequentes;
  • Começa a colocar as coisas em ordem;
  • Tem uma aparente melhora de uma depressão profunda.

Fatores:

  • Transtornos mentais (em mais de 90% dos casos de suicídio a pessoa já tinha alguma doença psiquiátrica, segundo Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da UNIFESP);
  • Depressão;
  • Traumas vividos durante conflitos bélicos ou desastres naturais;
  • Violência física ou mental;
  • Abuso emocional ou sexual;
  • Isolamento;
  • Estado civil solteiro ou separado;
  • Migração (perda das características culturais – Sabrina Stefanello, psiquiatra e pesquisadora em suicídio da UNICAMP).

Prevenção:

  • Estratégia de prevenção, como a restrição de acesso a meios utilizados para o suicídio (armas de fogo, pesticidas e medicamentos);
  • Redução do estigma e conscientização do público;
  • Fomentar a capacitação de profissionais da saúde, educadores e forças de segurança.

REFERÊNCIAS

CFM PUBLICAÇÕES. Suicídio: informando para prevenir. 2014. Disponível em: <http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14>. Acesso em: 03 set. 2018.

DAPIEVE, Arthur. Morreu na contramão: o suicídio como notícia. São Paulo: Zahar, 2017.

ESCÓSSIA, Fernanda. Crescimento constante: taxa de suicídio entre jovens cresce 10% desde 2002. BBC Brasil. 22/04/2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39672513 >. Acesso em: 04 set. 2018.

GIANNINI, Débora; LISBÔA, Gabriela. Estável, suicídio entre jovens ainda é quarta causa de mortes no Brasil. R7. 09/05/2018. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2010/03/708622-bairros-mais-ricos-de-sp-tem-maior-taxa-de-suicidio.shtml>. Acesso em: 03 set. 2018.

MAGALHÃES, Mario. Suicídios no Brasil, o país onde o passado não passa. The Intercept. 02/05/2018. Disponível em: <https://theintercept.com/2018/05/02/suicidios-brasil-passado-futuro/>. Acesso em: 3 set. 2018.

MORENO, Ana Carolina; DANTAS, Caroline; OLIVEIRA, Monique. Suicídios de adolescentes: como entender os motivos e lidar com o fato que preocupa pais e educadores. G1 Ciência e Saúde.  27/04/2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidios-de-adolescentes-como-entender-os-motivos-e-lidar-com-o-fato-que-preocupa-pais-e-educadores.ghtml >. Acesso em: 04 set. 2018.

SILVEIRA, Julliane. Bairros mais ricos de São Paulo tem maior taxa de suicídio. Folha de São Paulo (Folha Digital). 18/03/2010. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2010/03/708622-bairros-mais-ricos-de-sp-tem-maior-taxa-de-suicidio.shtml>. Acesso em 03 set. 2018.

WENTZEL, Marina. O que mais mata os jovens no Brasil e no mundo, segundo a OMS. BBC Brasil.  16/05/2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39934226>. Acesso em: 03 set. 2018.

¹ https://vitaalere.com.br/